O país que mais mata pessoas trans no mundo é o mesmo que bateu número recorde de candidaturas trans e travestis nas eleições de 2022. De 78 concorrentes ao pleito, cinco foram eleitas pelo povo. Representando um fato inédito na história do Brasil, as deputadas federais Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP) passam a integrar a Câmara de Deputados, sendo as primeiras representantes não cisgêneras a ocuparem a Casa. Além delas, foram eleitas para as assembleias legislativas de São Paulo, Sergipe e Rio de Janeiro, as deputadas estaduais Carolina Iara (PSOL), da Bancada Feminista, Linda Brasil (PSOL) e Dani Balbi (PCdoB).
Mapear a violência cometida contra essas e outras candidaturas travestigêneres nas redes sociais durante e após o pleito eleitoral mostra-se importante para compreender parte da política que está em jogo e o que isso representa em tempos de ataques à democracia. O Transfobia em Dados (TD) surge com o objetivo de cobrir a temática trans no Brasil sob o olhar de dois atores fundamentais para o jornalismo e a elaboração de políticas públicas: as informações e os dados.
Grande parte dos discursos de ódio e ataques discriminatórios acontecem no Twitter. A edição Violência de gênero nas eleições de 2022 buscou analisar de forma aprofundada os ataques transfóbicos realizados na plataforma. Os tweets coletados foram publicados entre os meses de agosto e novembro — durante o período eleitoral e um mês após o primeiro turno das eleições. O levantamento resultou em 665 ataques transfóbicos cometidos por 591 usuários.
24% DOS ATAQUES TRANSFÓBICOS FORAM RESPOSTAS A TWEET DE DUDA SALABERT (PDT) SOBRE PROCESSO INSTAURADO CONTRA O DEPUTADO NIKOLAS FERREIRA (PL) POR TRANSFOBIA
O tweet de Salabert anunciando que foi eleita deputada federal foi o segundo assunto com mais comentários transfóbicos;
em terceiro, post da mesma candidata sobre live do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com convidados
"VOCÊ NÃO É MULHER"
35,06% das agressões se enquadram na categoria 'questionamento de identidade gênero', relacionada a ataques
em que usuários invalidam a autodeclaração de gênero dos/as/es candidatos/as/es
85,56% DOS AGRESSORES SÃO PESSOAS COMUNS
Do total de ataques identificados, 3 foram realizados pelos deputados do Partido Liberal (PL):
Bruno Engler, Douglas Gomes e Nikolas Ferreira