COMO E QUEM FAZ O TRANSFOBIA EM DADOS
Metodologia
A primeira etapa do projeto foi levantar as candidaturas trans e travestis que concorreram ao pleito. Para isso, o projeto utilizou como base o relatório das eleições de 2022 da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), que identificou 78 elegíveis entre mulheres e homens trans, travestis e pessoas não binárias. A partir deste relatório, o Transfobia em Dados (TD) identificou 53 candidates com acesso ao Twitter — 30 mulheres trans, 20 travestis e 3 pessoas não binárias.
Para verificar os ataques de gênero, o TD realizou o levantamento por meio da busca ativa de 31 palavras-chaves associadas aos nomes e usuários de cada uma das candidaturas participantes da pesquisa. As palavras foram selecionadas por meio da análise das menções direcionadas às candidatas com maior número de seguidores na plataforma e através de expressões comumente utilizadas em ataques transfóbicos, como é o caso dos termos “traveco”, “bicha” ou dos pronomes “ele” ou “ela” em desrespeito à identidade de gênero. Ao todo, foram realizadas 3.286 pesquisas no Twitter, no período de agosto a novembro de 2022.
Os tweets foram coletados por meio da plataforma Instant Data Scraper, ferramenta automatizada para extração de dados. Posteriormente, os comentários foram registrados em uma planilha, analisados e categorizados individualmente a partir de nove tipos de violações principais e secundárias, como “questionamento sobre identidade de gênero”, "ataque transfóbico direcionado à orientação sexual" e "uso de linguagem em desacordo com o gênero". Também foram identificados os comentários que possuíam ataques com outro viés discriminatório, como ‘racismo’, ‘homofobia’ e ‘intolerância religiosa’.
Na última etapa, o TD verificou as informações por trás das contas dos responsáveis pelos ataques: tweets, retweets, curtidas, frases utilizadas na biografia e foto de capa e/ou perfil. Os dados foram organizados em quatro variáveis, criadas a fim de identificar os tipos de usuários que realizaram as agressões (agente comum, político e perfil de grande alcance virtual, por exemplo), além do posicionamento político-partidário de cada um dos agressores.
É válido ressaltar que o Twitter possui “medidas corretivas” que ocasionam a exclusão de tweets com caráter ofensivo. Dessa forma, durante a análise dos tweets retornados pelas buscas, o Transfobia em Dados encontrou tweets excluídos pela plataforma e substituídos por um aviso de violação das regras. Na impossibilidade de verificar se a ofensa se tratou de ataque de gênero, o TD optou por não considerar esses comentários.
Para baixar a base de dados, clique aqui.
Quem somos
Caê Dalla Dea Vatiero é jornalista transmasculino não-binário formado pela UNESP e cofundador do Transfobia em Dados. É consultor de violações à liberdade de expressão pela ARTIGO 19 Brasil e assistente do Programa Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Monitorou jornalistas bloqueados por autoridades públicas no Twitter e atuou no projeto LAI nas Redações, ambos pela Abraji. Foi integrante da 2º temporada do programa Idade Mídia, do Canal Futura, e repórter no jornal independente Fatos da Rua.
Victória Ribeiro é jornalista formada pela UNESP e cofundadora do Transfobia em Dados. Possui conhecimento em jornalismo de dados e Lei de Acesso à Informação (LAI), tendo passado pela Fiquem Sabendo, agência especializada em dados e informações públicas, e pelo jornal O Estado de São Paulo como trainee. Foi repórter nos jornais independentes Jornal Dois e Fatos da Rua. Atualmente é freelancer na editoria de hard news da UOL.
Colaboradora
Júlia Comin é designer formada pela UNESP. Trabalhou em design experimental com técnicas híbridas e aplicações em serigrafia de forma autoral e independente. Ministrou nessa mesma área, aulas e oficinas em instituições, como UNESP e SESC Bauru. Atualmente, desenvolve projetos freelancer em motion graphics e trabalha com design da informação voltada para a comunicação interna no Bradesco.